Por que o psicólogo escolar precisa sair da sala de atendimento?
- psicologia escolar na prática
- há 3 dias
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Durante muito tempo, imaginou-se que o trabalho do psicólogo escolar consistia em escutar individualmente crianças com dificuldades, oferecer “dicas” aos professores sobre como lidar com comportamentos desafiadores, ou ainda, “resolver” situações emocionais que surgissem dentro da escola. Resultado? Um profissional isolado, dentro de uma sala, aguardando demandas emergenciais — um verdadeiro plantonista emocional.
Mas a pergunta que não quer calar é: isso é psicologia escolar ou clínica disfarçada dentro da escola?
Psicologia escolar não é uma extensão do consultório
A psicologia escolar, especialmente em sua vertente crítica, parte do princípio de que a escola é um espaço coletivo, político e relacional. Assim, as questões que surgem ali não devem ser tratadas apenas como problemas individuais, mas como expressões de contextos sociais, pedagógicos e institucionais.
O comportamento da criança em sala, o adoecimento do professor, a indisciplina constante, o bullying que se repete... tudo isso fala de relações, de estruturas, de discursos naturalizados. O psicólogo escolar que atua de forma crítica precisa compreender isso — e mais: precisa estar onde essas relações acontecem.
A escola como campo de atuação (e não de espera)
Sair da sala de atendimento significa ocupar os espaços da escola com intencionalidade. É estar presente nas reuniões pedagógicas, ouvir os corredores, acompanhar projetos, construir coletivamente estratégias com professores, famílias e gestores.
É entender que o cuidado emocional não se restringe ao indivíduo, mas se constrói nos vínculos, no diálogo e na criação de práticas mais humanas e acolhedoras. E isso não se faz com a porta fechada.
Prevenção, promoção e transformação
Ao circular pela escola, o psicólogo amplia sua escuta e sua atuação. Consegue identificar fragilidades antes que elas explodam, articular ações de promoção de saúde mental, pensar em projetos que fortaleçam o pertencimento, a convivência, o desenvolvimento emocional e social dos alunos.
Além disso, assume uma postura de corresponsabilidade, saindo do papel de “resolvedor de problemas” e se colocando como facilitador de processos coletivos.
Mas então nunca se atende individualmente?
Boa pergunta. Em situações pontuais, sim, o psicólogo pode realizar escutas individuais breves, sempre com objetivo de compreensão da demanda, orientação e encaminhamento adequado, quando necessário. Mas isso não é o foco principal da atuação escolar.
Se a maior parte do tempo do psicólogo está sendo consumida com atendimentos individuais, algo precisa ser revisto. Afinal, o foco da psicologia escolar é o coletivo, o pedagógico, o institucional.
Concluindo: mudar a lógica para mudar a escola
Sair da sala de atendimento é mais do que um gesto físico. É uma mudança de lógica, de postura profissional, de compromisso com a transformação social e educacional. É entender que o sofrimento psíquico, muitas vezes, nasce em contextos que precisam ser ressignificados — e que o psicólogo escolar tem um papel potente nessa construção.
A escola precisa de psicólogos que pensem junto, que circulem, que provoquem reflexões, que atuem com e para a comunidade escolar. E isso, definitivamente, não acontece isolado entre quatro paredes.

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